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17 de outubro de 2010

Cego do Maio



ciclo Iconografia Poveira
série o Mar da Póvoa do Mar
Acrílico e Grafite s/ tela
50x70
ano de produção: 2010


José Rodrigues Maio (8.10.1817-13.11.1884), O Cego do Maio, viveu rodeado de mar. Duvido que alguma vez os seus horizontes tenham sido outros.

Pescador sardinheiro, “Tio Maio” tornou-se lenda pela centena de salvamentos que fez, quando a Póvoa não tinha ainda porto de abrigo nem barco salva-vidas. Não era cego, tinha antes um olhar permanentemente esbugalhado virado para o mar.

A cegueira imanente na alcunha reflecte o desinteresse com que, na sua pequena catraia, se aventurava “às cegas” pelo mar adentro em socorro dos náufragos, atitude que ele próprio considerava um dever sagrado. Não procurava agradecimentos mas foi condecorado com a Medalha de Ouro da Real Sociedade Humanitária do Porto e com o Colar de Cavaleiro da Ordem de S. Tiago da Torre e Espada que lhe foi aposta pelo Rei em pessoa, D. Luís I.

Grande honraria, porém, foi ter sido nomeado Patrão do primeiro salva-vidas poveiro, por Pereira Azurar em 14.05.1881.

A Comunidade Poveira do Brasil e o Clube Naval Povoense mandaram erigir um monumento em sua honra, que pode ser visto no Passeio Alegre da Póvoa de Varzim, da autoria do escultor portuense Romão Júnior.

A partir do busto desse monumento foi composta a figura central do quadro.

As preocupações de Tio Maio, as agruras e amarguras do pescador poveiro, estão ainda vivas não obstante o tempo decorrido:

“Há quem espere um bom vento ou melhor casamento e advogue que os lobos-do-mar, ásperos como o rude oceano, perseguem princípios politicamente incorrectos, ultrapassados pela noção de cidadela global. Alguém escuta o desabafo, que lhes querem roubar o mare clausum? Não, certamente! O pescador não se rebola nas altas esferas, as políticas. Sobram as armilares que muito preza porque dos céus depende a sua orientação.”1

Aí estão. Na Ursa Menor (canto superior direito) a Estrela Polar é representada pelo símbolo “estrela” das marcas poveiras. No canto inferior esquerdo está o Sete-Estrelo (as Plêiades).

Cego do Maio enverga uma camisola tradicional poveira.
Na calçada (onda por baixo da figura central) está representada a marca (meio sarilho) da família ”Os do Cego do Maio”. 2




1.  admário costa lindo. in o bico-de-lacre e o tarrote, inédito.
2. cf. GRAÇA, A. Santos. O Poveiro, Publicações Dom Quixote, 3ª edição, Lisboa, 1992, pp. 26 e 28.


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